Mãe
Por: Elisa Marante
Não me lembro de você
me ensinando a escovar os dentes, ou me dando banho e lavando meus cabelos. Nem
me lembro de você ver minhas lições, ou participar de reuniões na escola. Muito
menos, me lembro de me falar sobre diferenças entre meninos e meninas, ou me
dizer o que era certo ou errado antes de cometer os erros.
Mas me lembro o quanto
eu odiava você me obrigar a comer, me levar ao médico, me dar chineladas por
motivos que eu nem sabia, ou achar que este ou aquele namorado não servia pra
mim.
Eu me lembro de brigar
com você, pedir ajuda nas horas difíceis, de dar gritos perdendo a paciência
com suas opiniões e palpites que eu julgava desnecessárias, com suas
reclamações, e mesmo assim, você ficava quietinha. Provavelmente magoada, mas
ainda assim, quietinha.
Apesar disso, sempre
falava de você pra todos meus amigos, do quanto você era doce, meiga, religiosa,
prestativa até para pessoas que mal conhecia. Sempre amada pelos vizinhos, filhos,
amigos dos filhos, genros e noras, netos e apelidada de Vovó Maria com muito
carinho.
Lembro também do seu
jeito simples de agradar a todos, fazendo bolinho de chuva, bolo de laranja,
rabanadas, que sem nenhuma sofisticação nas receitas, todos adoravam, e que nem
o mais renomado chef de cozinha conseguiria fazer igual.
Mesmo com sua submissão irritante, sempre tive
orgulho deste seu jeito meigo de ser.
Eu poderia pedir
perdão agora, mas não preciso. Sei que vai me compreender e perdoar.
Me perdoar pelas coisas
horríveis que já te disse e pelas coisas boas que deixei de te dizer.
Me perdoar pelas reclamações
que fiz de você, ignorar suas dores e sua tristeza.
Me perdoar pelo meu
egoísmo, por tudo que te fiz, mas principalmente, me perdoar por tudo que deixei
de fazer por você.
Agora, mesmo sabendo
que você voltou pra sua casa com saúde e feliz, todos nós, ausentes nos últimos
anos de sua vida, agora choramos a sua ausência nas nossas vidas.
Bom retorno à sua
verdadeira casa, mãe. Fique em paz.