sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Mãe


Por: Elisa Marante


Não me lembro de você me ensinando a escovar os dentes, ou me dando banho e lavando meus cabelos. Nem me lembro de você ver minhas lições, ou participar de reuniões na escola. Muito menos, me lembro de me falar sobre diferenças entre meninos e meninas, ou me dizer o que era certo ou errado antes de cometer os erros.

Mas me lembro o quanto eu odiava você me obrigar a comer, me levar ao médico, me dar chineladas por motivos que eu nem sabia, ou achar que este ou aquele namorado não servia pra mim.

Eu me lembro de brigar com você, pedir ajuda nas horas difíceis, de dar gritos perdendo a paciência com suas opiniões e palpites que eu julgava desnecessárias, com suas reclamações, e mesmo assim, você ficava quietinha. Provavelmente magoada, mas ainda assim, quietinha.

Apesar disso, sempre falava de você pra todos meus amigos, do quanto você era doce, meiga, religiosa, prestativa até para pessoas que mal conhecia. Sempre amada pelos vizinhos, filhos, amigos dos filhos, genros e noras, netos e apelidada de Vovó Maria com muito carinho.

Lembro também do seu jeito simples de agradar a todos, fazendo bolinho de chuva, bolo de laranja, rabanadas, que sem nenhuma sofisticação nas receitas, todos adoravam, e que nem o mais renomado chef de cozinha conseguiria fazer igual.

 Mesmo com sua submissão irritante, sempre tive orgulho deste seu jeito meigo de ser.

Eu poderia pedir perdão agora, mas não preciso. Sei que vai me compreender e perdoar.

Me perdoar pelas coisas horríveis que já te disse e pelas coisas boas que deixei de te dizer.

Me perdoar pelas reclamações que fiz de você, ignorar suas dores e sua tristeza.

Me perdoar pelo meu egoísmo, por tudo que te fiz, mas principalmente, me perdoar por tudo que deixei de fazer por você.

Agora, mesmo sabendo que você voltou pra sua casa com saúde e feliz, todos nós, ausentes nos últimos anos de sua vida, agora choramos a sua ausência nas nossas vidas.


Bom retorno à sua verdadeira casa, mãe. Fique em paz.