quinta-feira, 2 de julho de 2015

CORAÇÃO TOCADO

Por: Jô Martines

Em qual esquina eu perdi a minha fé nos seres humanos?
Em que momento específico eu me dei conta de que a vida moderna nos deixou à mercê de estranhos que agem como amigos de infância e de pessoas que conhecemos à fundo mas que agem como totais desconhecidos, sem um pingo de afinidade para conosco?
Não sei dizer quando ocorreu. Nem dimensionar o que isso me causou.
Ficou apenas a amarga certeza de que isso importa, posto que não sou uma ilha, nem pretendo ser.
E embora às vezes o sentimento de solidão é bem próximo do isolamento que uma ilha distante possa me transmitir, um turbilhão de obrigações e contextos me puxa de volta ao convívio com os meus semelhantes, alguns nem tão semelhantes assim.
A cultura ocidental nos estratificando, nos espremendo cada vez mais, afim de extrair o que há de mais "produtivo', o que há de mais "capitalizável", e em contrapartida, nos prometendo ilusórias e vazias sensações de conquista e de realização pessoal. Isso sem falar do processo (quase alimentício) de homogeneizar e pasteurizar as pessoas, como se fosse possível deixar todos iguaizinhos.
Vistam as mesmas roupas, comam as mesmas comidas, viajem para os mesmos destinos, queiram as mesmas coisas ... sempre!
Do outro lado a cultura oriental nos mostrando outros caminhos, outras maneiras de buscar o que há de melhor em nós, e tendo também sua contrapartida, nos tarifando em sacrifícios e desapegos para os quais a maioria não está preparada ainda.
Sejam verdadeiros, deixem de lado as ilusões, os brinquedos, o ego... agora!
E no meio disso tudo eu, perdida, confusa, ora esperançosa em ir em busca daquela luz brilhante, ora solapada pelo peso do dia-a-dia brutal disfarçado de vida normal.
E eis que surgem pessoinhas diversas, distantes, alheias aos meus males, que me conectam sem saber, que me tocam por vezes sem intencionar, que me devolvem o brilho no olhar, a vontade de buscar, a fé na vida, o pé na estrada...
A fé em mim...
A essas, a minha gratidão!