sexta-feira, 13 de julho de 2012

O FAROL

Por: Elisa Marante

Hoje eu me sinto um farol. Moro numa praia distante. Fico atento a tudo que acontece ao meu redor e, ao mesmo tempo, visível e brilhante. Meu sobrenome é Solidão. Tenho tudo, pertenço ao mundo e, ao mesmo tempo não tenho nada e não sou de ninguém.

Meu grande companheiro é o mar. Eu não saio do lugar, mas quando as ondas vêm e vão ou a maré sobe e desce, tenho a sensação de estar caminhando sobre as águas, explorando lugares, fazendo coisas que ninguém fez.

De repente, me dou conta que foi só uma ilusão. Continuo no mesmo lugar, na vida que escolhi. Sempre livre e observando o que eu mais amo: o mar, que transparece a liberdade.

Os golfinhos são meus amantes - doces companhias. Eles me amam e sempre que peço, eles me visitam. Tenho também as baleias - gigantes e poderosas. Ainda tenho os outros peixes. Alguns são exóticos e outros de beleza estonteante. Na areia, brinco com as tartarugas, lentas e, embora de poucas palavras, demonstram extrema sabedoria.

E os pássaros? As gaivotas são as minhas preferidas. Ás vezes tenho inveja delas por terem o poder de voar... Alguns desses animais me pedem pra ir embora com eles. Num súbito momento, quero me arrancar da terra, soltar meu alicerce e seguir... mas não vou. Algo invisível me prende. Orgulho de ser só. Orgulho de ser um farol. Ou medo de enfrentar o escuro, o estranho. Enfrentar aquilo que não conheço.

Apesar de sentir falta de ver o dia raiar com alguém ao meu lado, de alguém me ajudando a trocar as lâmpadas que estão queimadas ou me fazendo cócegas quando sobe minhas escadas, ainda assim, eu prefiro estar sozinho, livre e sem compromissos. Meu compromisso é comigo mesmo e com o mar.

Ser sozinho é um exercício. Um exercício de amor. Aprendo a me amar um pouco mais a cada dia. Aprendo a fazer tudo que quero e a fazer sozinho. Se não tenho ninguém, eu mesmo troco minhas lâmpadas queimadas. Espero as chuvas e eu mesmo lavo minhas janelas. Mas as cócegas... isso eu não consigo fazer nas minhas próprias escadas. Isso eu não consigo aprender. Bem, mas nem tudo é perfeito. A vida é feita de escolhas...

Sou sozinho, solteiro, paciente e observador. Sigo o meu caminho, ou melhor, o meu tempo, com muita paciência e observando tudo ao meu redor. Isso me ensina cada vez mais a lidar com a vida que escolhi.

Todos me vêem, mas ninguém consegue me tocar por inteiro. Um dia namoro um peixe, no outro faço amor com uma estrela. Mas não sou de ninguém, e ninguém me pertence.

O meu único medo, é um dia perceber que estar sozinho é a minha única opção.


2 comentários:

  1. Bom... muito bom... rs!

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  2. Também gostei...
    Saber estar só é condição fundamental para estar junto!
    ;)

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