quinta-feira, 24 de maio de 2012

O ENIGMA DA ESFINGE

Por: Jô Martines

Fiquei vários dias sem ter vontade de escrever, remoendo uma estranha sensação de que nada que pudesse ser escrito faria sentido, primeiramente pra mim mesma e claro, para quem quer que chegasse a ler.
Mas não foi por falta de assuntos, ou de idéias de como desenvolver os temas.
Foi mais como uma espécie de vazio criativo, capaz de abrir espaço para novos sentimentos, novos questionamentos.
Foi como sair da zona de conforto de uma cômoda posição de crítica e de auto-crítica para passar para o outro lado, para ocupar uma cadeira na platéia e procurar entender à fundo esses assuntos todos que povoam os recônditos de minha mente, de meus pensamentos, minhas cismas e “achismos”.
E tem sido uma experiência incrível isso. Um bom cabo-de-guerra entre a cobrança de escrever para o novo blog e a vontade pura e simples de só escrever quando fosse algo verdadeiramente visceral.
Me obrigar a exercer o papel de observadora, a praticar a reflexão, a tentar entender os motivos que existem por trás de cada coisa pensada, foi realmente algo gratificante.
E passado este período de “gestação”, eis que nasce em mim uma coisa totalmente nova, pois aquela obrigação lancinante de escrever por escrever já passou, e o que tomou seu lugar foi a vontade de encarar de frente a Esfinge e desafiá-la a me questionar, sem medo de ouvir a terrível verdade: “Decifra-me ou te devoro”.
Porque não há nada mais libertador do que descobrir que eu não tenho e nem nunca terei respostas para todas as perguntas.
Embora eu já saiba de antemão que certamente continuarei a procurar, algumas vezes até mesmo perseguir estas respostas.
Quando a ficha “cai”, o que era complexo se transforma em óbvio. O que era difícil em fácil, e o que era intragável em simples de digerir. Parece tão simples, não é?
Engraçado que nessas horas, até a Esfinge assume ares de gatinho de estimação.
Seria isso a tão esperada maturidade?
Descomplicar, simplificar, desconstruir tudo o que me tolhe, que me apavora, que me oprime? Jogar isso tudo fora e substituir pela luminosidade de um dia sem falsas expectativas?
Quem devora quem? A dúvida devora a certeza ou a certeza devora a dúvida?
A luz devora as trevas sem ter uma mísera demonstração de incerteza de que é o que realmente deve ser feito.
Bem, vou ficando por aqui com minhas novidades.
Talvez para voce que me vê apenas por fora não entenda. Aqui dentro está cheio de brotos, de sementes, de vida...
Mas pra que isso acontecesse, algumas coisas precisaram morrer em mim.
Quem devora quem?
A vida sempre devora a morte, e não o contrário.

3 comentários:

  1. Legal...... Essa é a Jô que eu conheço...bjãozão!!!

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  2. Muito bom!
    O que entendi depois de 51 anos da vida atual, é que vivemos nos descobrindo e redesconbrindo, sentimentos e entendimentos novos surgem e outros são repaginados e reorganizados.
    Descobri recentemente que não sou a mesma Vera de 10 anos atrás, ótimo! Seguindo esse raciocínio, daqui mais 10 anos serei outra Vera, a Vera que estou construindo nesse momento e será um prazer conhecê-la!...bjs.

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  3. Verdade, Vera. Estamos em constante mudança, embora a gente nem sempre se dê conta disso. Lembro-me de ter lido, há muito tempo atrás, um poema de Pablo Neruda que tratava disso. O poema se intitula "El niño perdido", e retrata o encontro do autor de meia-idade com o menino que foi, quando criança. Pura poesia. Beijos!

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